Róis de Confessados

02 agosto 2024

Os Róis de Confessados, também designados por Róis de Confissão e Comunhão, Listas da Desobriga Quaresmal ou Desarriscas, destinavam-se ao controlo anual dos paroquianos no que respeita ao cumprimento dos sacramentos da confissão e comunhão por ocasião da Quaresma, o período litúrgico de quarenta dias que antecede a Páscoa.

Apesar de se ter determinado em 1215, no IV Concílio de Latrão, que “Cada fiel, de ambos os sexos, atingindo a idade da razão, confesse lealmente, sozinho, todos os seus pecados ao sacerdote, ao menos uma vez ao ano, e se aplique a cumprir, segundo as suas forças, a penitência que lhe foi imposta; receba com reverência ao menos pela Páscoa o sacramento da Eucaristia”, foi apenas após o Concílio de Trento, no século XVI, que se impôs a obrigatoriedade deste registo em todas as paróquias.

Assim, todos os anos após o Domingo da Septuagésima (nono domingo antes da Páscoa) os priores estavam obrigados a fazer o registo dos fregueses com mais de sete anos – idade mínima para se poderem confessar - por nomes e ruas onde viviam, listando sequencialmente fogo a fogo. O primeiro nome a ser registado era o do chefe de família, seguido dos restantes moradores do fogo, pela relação hierárquica que mantinham com ele (mulher, filhos, pais, irmãos, netos, sobrinhos, afilhados, expostos, criados). À frente de cada nome era colocada a indicação de comunhão e confissão (cc) ou apenas confissão (c) e, por vezes, eram mencionadas as características físicas ou mentais do indivíduo, como são exemplo “cego”, “pedinte”, “enjeitado”, “demente” ou “mentecapta”.

No final de cada ano era referido o número total de fogos, o número de pessoas que cumpriram o preceito da confissão, as que se confessaram e comungaram e também o número total das que não cumpriram os sacramentos.

Na verdade, apesar de terem sido produzidos por questões religiosas, os róis de confessados são uma importante fonte histórica principalmente para o estudo da demografia e da genealogia, uma vez que permitem conhecer a estrutura e composição dos agregados familiares, nomeadamente as relações de parentesco entre os moradores de cada casa; saber as profissões, idades, características físicas e mentais de alguns indivíduos; aferir o estatuto social dos moradores, como por exemplo pela utilização da designação de Dom ou Dona ou pelo número de criados que tinham; e conhecer factos sobre a toponímia, como os nomes de ruas, dos casais e dos lugares.

Por norma os róis de confessados estão conservados nas respetivas paróquias, mas no Arquivo Municipal existem, disponíveis para consulta, sessenta e seis livros de róis de confessados das freguesias da então vila de Torres Vedras, que abarcam o período cronológico entre 1783 e 1915 – com lacunas de alguns anos – na sequência de um protocolo assinado entre a Câmara Municipal e a Fábrica da Igreja Paroquial da freguesia de São Pedro e Santiago.

Consequentemente, e comprovando o quão essencial é promover a divulgação e o acesso deste tipo de documentação aos investigadores, em 2013, Graça Maria Mira Antunes da Silva apresentou uma dissertação de mestrado intitulada Estrutura familiar e Social em Torres Vedras no início do século XX. Uma perspetiva histórica comparada, que pode ser consultada em linha, na qual traçou, a partir da consulta dos róis de confessados que existem no Arquivo Municipal e também dos róis de confessados que existem na paróquia de São Mamede da Ventosa, um estudo sobre a população, economia e sociedade torrienses.

Texto de Paula Correia da Silva